Por que as pessoas aplaudem?
19/07/2016 · Por Fernanda Verzinhassi
Aqui na Aldeia, todos os dias acontecem danças e cantorias indígenas. Hoje foi a vez dos Krahô, que encerraram as etapas de sua Festa da Laranja com as mulheres oferecendo algum enfeite aos homens - como uma reparação pelas laranjas atiradas desde ontem. Em seguida, um ato simbólico para transferir a homenagem aos Guarani Mbyá. O horário geralmente coincide com o término de visitação do público externo. A “plateia” aplaude muito, sempre.
Em nossa cultura o aplauso é um reflexo: pode ser uma expressão de aprovação, como num discurso político; de satisfação, como num espetáculo; de celebração, como num parabéns. Mas quando entramos em contato com outras impressões de mundo, será que o aplauso significa o que queremos dizer? Será que ao aplaudirmos, inserindo em outra tradição um símbolo nosso, não estamos violentando outros significados? A reação do aplauso é natural. Para quem?
Pensando nisso, perguntamos aos visitantes: por que você aplaudiu?
“Pela beleza do evento”.
“Para homenagear a cerimônia”.
“O jeito social. Podia fazer outra coisa: podia aplaudir, podia dar um beijo, se não quisesse não aplaudia. É uma aprovação. É minha linguagem”.
“Dizem, na história, que quando você aplaude você tá se alegrando com o ambiente”.
“Porque ainda existe essa geração de índios. São os que restaram e a gente ainda tem o privilégio de conhecer. Agora eu tenho, com 65 anos, a oportunidade de conhecer os verdadeiros brasileiros. Gostaria que muita gente conhecesse e reconhecesse que são os verdadeiros brasileiros. Desde criança eu penso isso. É uma demonstração que o povo pode viver sem acabar com tudo, eles tão confirmando isso”.
“Porque é uma cultua genuína. Eles são os verdadeiros brasileiros. Antes dos portugueses chegarem eles já estavam aqui. Então é a casa deles, nós somos os invasores”.
“Eu não aplaudi porque eu tava como expectadora”.
“Também não aplaudi. Acho que a galera numa vibe mais ou menos assimila a uma encenação, a algo teatral, a um evento para eles”.
“Eu não aplaudi porque às vezes eu não sei se é desrespeitar a cultura deles”.
“Os índios não começaram a aplaudir, eu também não aplaudi. Mas teve uma hora que eu não me contive e aplaudi, até fiquei emocionado”.
“Por uma demonstração de satisfação pelo o que eu recebi, uma demonstração de apreço”.
Danças para encenar, danças que exercitam, danças que divertem. Obviamente a dança dá conta de reunir uma porção de funções. Mas há danças que são essencialmente rituais, manifestações de espiritualidade, que era o caso da manifestação Krahô assistida por todos.
O espaço da Aldeia existe para enriquecer aprendizados, para construir relações empáticas. Perceber o outro. Esse espaço deve ser encarado como uma oportunidade de diálogo e construção coletiva baseada em sensibilidade e respeito. Uma vivência, seja uma tarde ou um mês, traz a beleza da diversidade e a preciosidade da cultura indígena; quando estamos compreedendo suas especificidades, guardando os detalhes, conhecendo as possibilidades, levamos para casa mais do que a satisfação de espectador.
- Hoje foi encerramento de sua festa, dos Krahô. Por que você não aplaudiu, Hãyhã?
“Porque na nossa lei, quando um cacique tá falando e termina de falar não tem isso. Na política, quando termina de falar, pessoal aplaude. Eu entende que tá ajudando. Mas eu sinto que tá espantando a alma das pessoas".