Ocupação Yawalapiti na X Aldeia Multiétnica

20/07/2016 · Por Fernanda Verzinhassi

É maravilhoso perceber que o termo “índio” realmente nunca dará conta de representar a diversidade de identidades indígenas porque cada etnia tem suas particularidades rituais, estéticas, linguísticas.

Durante a tarde de quarta-feira, 20 de julho, o pátio da X Aldeia Multiétnica ganhou novos contornos, outras perspectivas de ocupação, mais cor. Os Yawalapiti, homenageados do dia, guiaram nossa imaginação para cantos e contos da mata por meio de suas danças e sons que ilustraram a takuara, o macaco e uma homenagem ao jacu. Em seguida, transformaram o pátio de danças em uma arena para praticar o tradicional esporte-ritual Huca-Huca:

“A gente não ganha nada com isso, só respeito. Tipo o jogador profissional que tem muito dinheiro, é diferente, né? Lá no Xingu a gente ganha só respeito”, explica Anuiá, líder dos Yawalapiti.

Quanto à coragem de André, um voluntário batizado por eles que decidiu aprender a luta, Anuiá esclareceu:

“Pra ser campeão, eu expliquei pra ele, tem que treinar desde pequenininho, tem que tomar muita erva, acordar de madrugada, três horas da manhã. Não é fácil se tornar grande guerreiro. Fazer sangria todo dia, toda semana, passar raiz. A gente tem milhares de raiz que a gente passa. É a bomba natural - agora tem bomba na cidade que não presta, né. A gente passa a bomba natural mesmo, fazendo sangria”.

Lutaram homens, mulheres, parentes e voluntários. E após transmitirem sua mensagem por meio do esporte-ritual, os Yawalapiti deram outra lição de solidariedade e respeito:

“É a cultura que nunca vai acabar e isso é muito importante pra todos os indígenas do Xingu. Quem tá vendo pela primeira vez esses rituais que estão apresentando, outras etnias também se apresentando pra nóis. A gente não sabia que outras etnias existia, quando cheguei aqui primeira vez na Aldeia Multiétnica, aí que conheci todos meus parente, né, que tão presente aqui, agora. Já somos todos irmãos, sempre fomos irmãos. Agora eu fiz uma homenagem pras Guarani Kaiowá que estão sofrendo pelos massacre - eles massacraram, até hoje eles tão matando pessoa - por isso que eu escrevi pra eles, homenagem pra eles. Muito triste pra mim também. Eu senti muito, todos indígenas do Xingu sentiram muito quando mataram as crianças e até o cacique de lá. Foi muito triste pra mim”, conta Lappa Amarü Kamaiurá.

A música e a expressão sincera de Lappa Amarü Kamaiurá retomou a realidade antes maquiada pelo entusiasmo da dança e do Huka-Huka. Fundamentais para reforçar o óbvio: o genocídio indígena é crime, é desumano e tem que acabar.

“A música fala sobre eles mesmo. Ele fala assim: desde que os branco chegaram no Brasil eles massacraram todos meus irmãos, meus filhos e avós que estavam à beira do mar. Agora eles voltaram de novo, massacraram nossos irmãos. Por quê? Por quê? Por que estão fazendo isso com a gente? A gente não faz nada com eles. Por que, por quê? ”, indaga Anuiá.

Para encerrar, todos os presentes foram convidados a participarem de uma brincadeira que os Yawalapiti geralmente realizam na Aldeia e chamam de Festa do Pequi.

“O cacique reúne: vamos brincar com nossas menina, fazer alegria pra elas. Aí antes de fazer a brincadeira ele reúne tudo os jovens e vai entrar só quem sabe brincar, não vai sair briga. Porque mulher bate mesmo, metem unha mesmo, de raiva, porque a gente fica provocando, né? Então homem não pode bater, só pode sair, se proteger”, conta Anuiá.

Um tempo com os Yawalapiti. Todas as pessoas deveriam dedicar um longo tempo de sua vida a aprender com os Yawalapiti.