
Poliana: "Gracias a la vida que me ha dado tanto"
25/11/2015 · Por Narelly Batista
Ela tem 22 anos e ele tem 6. O nome dela é Poliana Moraes e o dele é Bryan. Os dois dividem o amor pela música e a esperança de dias melhores. Correm pela estrada de chão se divertindo com os dias enfeitados pelo cerrado da Chapada dos Veadeiros. Poliana bronqueia Bryan quando lhe falta atenção no ritmo das músicas que cantam juntos. Ele ri. Quem os vê pensa que são irmãos. Não o são. Poliana tornou-se mãe aos 16 anos. Ninguém esperava por isso. Nem mesmo ela, que imaginava ter uma vida tradicionalmente completa e seguindo a ordem cronológica que começa com o namoro, na sequência vem o casamento e só depois os filhos. Não foi assim que aconteceu. Diante da nova realidade, Poliana sofreu no primeiro momento. Ela não imaginava que Bryan era o elemento que faltava para que sua vida florescesse.
“Não somos uma criança cuidando da outra como dizem por aí. Detesto quando dizem isso”, desabafa. Morando na Vila de São Jorge, um distrito de Alto Paraíso de Goiás, a garota ouviu várias vezes que era uma pena que essa “fatalidade” tivesse ocorrido com ela, uma garota tão dedicada aos estudos e que aos olhos dos outros, prometia ter um futuro promissor. Era como se a gravidez a fizesse ser menos merecedora de novas perspectivas. Por um tempo acreditou nisso. E até decidiu que estaria condenada a pagar.
No início foi complicado. Poliana precisou procurar atividades bem diferentes das que sonhou para ela. “Pra sustentar ele fui procurar emprego em qualquer lugar. Faxineira, garçonete. Era isso ou nada. Eu não tinha condições de escolher o nada”. Desde os 11 anos de idade, a garota integra as atividades do projeto social “Turma Que Faz”, coordenado pela arte-educadora Doroty Marques. A jovem aprendeu nesse projeto a desenhar, pintar, apresentar-se em tecidos acrobáticos, tocar, cantar e sonhar. Sonhar com o dia que conseguiria ser uma cantora famosa e viveria apenas da arte.
Quando Bryan nasceu, imaginou que seu sonho de cantar poderia ser distante demais da realidade. Por sorte do destino ou predestinação, voltou a cantar ao lado de suas colegas de Turma, quando suas amigas entenderam que ela continuava sendo a mesma garota sonhadora e apaixonada pelas atividades artísticas que desempenhavam juntas.
As viagens que só a arte permite
Poliana segue conhecendo a América Latina por meio da música. Tem cantado muito as canções de Violeta Parra, graças a Doroty, que a fez aprender algumas músicas em espanhol, mesmo sem nunca antes ter tido aulas do idioma.
A menina sabia pouco sobre Violeta Parra. Tomou conhecimento da história da cantora poucos minutos antes de gravar um vídeo da música “Arriba Quemando El Sol”, com seu filho. Não imaginava que alguém tão famosa e conhecida poderia ter alguma semelhança com sua própria vida. Violeta era uma alma livre do campo que acreditava na educação folclórica das artes e na revolução. Saiu em busca de um lugar em que pudesse montar sua escola das artes. Uma escola diferente da tradicional. Por sua vez, Poliana é também uma alma livre do campo e trabalha na Escola Municipal do distrito de São Jorge apostando em formas de transformar a vida das crianças com quem trabalha por meio da arte.
Muitos a sua volta, acham que é justo que Poliana deixe de cantar. “Teve filho muito nova. Precisa colocar os pés no chão”, dizem uns e outros. Poliana já não liga mais para essas barbaridades que dizem. Aprendeu com a melhor pessoa do mundo que não há erro nenhum em gerar e cuidar com carinho de quem realmente ama e se importa com ela, seu filho.
Por hora só sabe que quer cantar, que quer continuar pintando e dançando a vida. Está cada dia mais forte e ao descobrir a história da cantora que interpretaria, era possível ver que havia uma reflexão diferente para cantar as canções que fizeram Violeta ser conhecida como a revolucionária voz da liberdade.
Hoje Poliana luta para alcançar outra liberdade. A liberdade das convenções sociais daquelas pessoas pequenas que ainda não conhecem a força da grande mãe e artista Poliana, que assim como Violeta Parra, renova-se cantando a seguinte canção:
“Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto.
Así yo distingo dicha de quebranto,
Los dos materiales que forman mi canto,
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos, que es mi propio canto.”